terça-feira, 23 de outubro de 2007

O Milagre Econômico no Brasil

Dizem que santo de casa não faz milagre. Ledo engano! Acabei de ter uma prova de que nossa fé é pouca, mas o santo é forte. Ainda mais no Brasil onde compartilhamos de uma variedade de crenças, credos, cultos e rituais. Em quase tudo nos apegamos à fé e de todas as maneiras: imagem de Santo Antônio virado de cabeça para baixo para arranjar marido, três pulinhos para São Longuinho se encontrar o objeto perdido, não exclamar em voz alta palavras de sentido maléfico para não atrair para si, ladainhas para acreditar no alcance de alguma graça, pedidos e preces depositados na urna da fé, óleo santo para curar feridas, gritos de louvor para pedidos serem aceitos nos céus, mãos estendidas, estalos, sibilos e água abençoada para purificar o espírito, tambores e guias para proteção espiritual, repetição de trechos bíblicos para tornar real uma vontade, e ainda mais as frases espirituais de Milena Reis (nossa mãe preta!) que nos reconfortam e consolam com o ideal de um mundo melhor com pessoas melhores.

Mas entre tantas formas de crer e tantas instituições religiosas, existe uma que tenho ce
rteza que você desconhecia como propagadora de milagres realizados. Você que é universitário já deve ter recorrido aos serviços que ela oferece sem saber que estava fazendo parte de uma religião: A Ordem dos fiéis depositários aos mercenários do Banco do Brasil. Ela é antiga e está no Brasil desde 1808, período da vinda da Família Real para este país, com toda sua nobreza e valores agregados.

Entre seus fiéis depositários estamos nós, em maioria, os universitários. Sim, os mesmos que nunca sabiam responder ao Show do Milhão - programa de TV que mais refletia a cara do povo brasileiro: sem formação, sem dinheiro, sem educação e sempre feliz! (rá- rá- rá – rá - rá).

Pois bem
, queridos colegas lisos e sem crédito no cartão, no celular e agora também no bilhete eletrônico, o objetivo deste post é o testemunho sobre o milagre que aconteceu em minha vida, digno de entrevista por uma semana no SUPERPOP (que sempre aborda temas interessantes, assim como este blog). Eu que sempre fui um tanto quanto questionador, com tendência ao ceticismo, mas sempre com a intenção de perguntar para fundamentar aquilo que se crê (epistemologias da fé, entendam...), recebi uma graça, um milagre! ALELUIA! Ô, GLÓRIA! Ô BENÇÁ! AXÉ! AMÉM! OXALÁ! AUERÊ! SAYONARÁ! RÁ!

O milagre foi tão forte que até agora estou um pouco tonto e não tive mais forças par
a continuar minhas tarefas vespertinas de hoje [22 de outubro de 2007]. Foi preciso eu voltar para casa, me recuperar com uma boa Leda Nagle entrevistando Lô Borges e um café bem quente, daqueles que pedem um pãozinho ou um beiju, hmmmmm. Mas sim, antes que eu caía no pecado da gula, preciso explicar a vocês o que aconteceu e relatar-lhes de quão maravilhosa é a graça que a Ordem dos fiéis depositários aos mercenários do Banco do Brasil nos concede. E para que você creia também que, com fé, é possível que alcançar tamanha benção!

A exatamente quatro anos sou discípulo da Ordem que tem o nome fantasia de “Banco do Brasil” para facilitar a compreensão. Durante todo esse tempo, tive uma fé “light” sem grandes atitudes ou aprofundamento. Para mim, bastava ter um contrato, conseguir um estágio e receber ao fim de cada mês um pouco das graças para depois doá-las como dízimo ao Senhor Banqueiro. Este ano, por conta da comodidade e por conta de más companhias, acabei por me desviar um pouco da Ordem e receber minhas graças por intermédio de terceiros. Mas meu nome na ata da Ordem permanecia fixo. E assim como a parábola do Filho Pródigo (não conhecem? ah, vão procurar ler a Bíblia ou a internet!), retirei um pouco de grana para desfrutar dos excessos (e necessidades) do consumismo comum a todos nós, cidadãos capitalistas. Bom, assim como o tal rapaz lá da parábola cristã, eu também me arrependi e resolvi voltar para os braços da minha amada Ordem dos fiéis depositários aos mercenários do Banco do Brasil (ainda não decoraram o nome?). Fui até a sede mais próxima localizada na minha comunidade e lá, fui logo posto à prova sobre uma das virtudes que nós, fiéis depositários, devemos ter: a paciência! Após uma longa espera, a atendente (uma moça bem vestida, de gestos contidos, porém ágeis no comando de um teclado, e que usava aparelho nos dentes e falava com voz mansa, mas ao mesmo tempo dominadora) começou a me interrogar com a mesma tranqüilidade que o dentista vai enfiando a broca ao fazermos limpeza no dente.

- Boa tarde, Senhor, em que posso ajudá-lo?
- Boa tarde, eu vim parcelar minhas dívidas com Nosso Senhor!
- Um instante que vamos verificar no controle do dízimo suas ofertas!

(pausa.)

- Um momento, Senhor!


( mais pausa e dedinhos vibrando por cima do teclado)


- Só mais um instante, Senhor!

...


...


...


...


...
(após tantas e tantas reticências...)

- Senhor, você pegou cinco bombons emprestados no mês de julho.
- Exatamente! Preciso devolver só cinco bombons, né não?!
- Senhor, estes bombons vêm com recheio e o recheio é fabricado pelas mãos santas dos filhos e anjinhos da Ordem e a cada evocação se multiplicam, assim como o milagre dos dois pães e cinco peixes. Você conhece essa parábola, não?!
- Não entendo muito bem, mas continue.
- Então, Senhor, acabamos de consultar o Oráculo dos Mercenários que nos informou que você terá que devolver apenas três sacos cheios do mesmo bombom que você pegou “emprestado”.
- Três sacos cheios? Mas isto é um milagre! Aleluia! O milagre da multiplicação! Como vocês conseguem em tão pouco tempo alcançar tal graça? Louvadas sejam todas as Ordens dos fiéis depositários (Banco do Brasil, Caixa Econômica, Bradesco, Banco Real, Itaú, Banco Popular, HSBC...) e também suas Ordens menores (Credicard, Mastercard, Visa, Ibicard, C&A...)! Mas todo meu tesouro são exatamente estes três sacos de bombons conquistados com muito trabalho!
- E tem maior graça do que doar ao Senhor o resultado do suor do trabalho? Pense na mesma broca já citada neste texto que irá furar um por um seus dentes. Pense que você preservará seu sorriso sempre belo.
- Mas eu não poderia ir devolvendo assim... de dez a dez bombons?
- Pode, mas terá que devolver num prazo de um ano aproximadamente.
- Vamos fazer o seguinte: eu devolvo os três sacos e você cancela totalmente meu dízimo!
- Ótimo, faremos isso agora! Louvado seja o dinheiro!
- Para sempre seja louvado!

E assim foi que tive a prova que o milagre da multiplicação existe, basta ter fé e deixar de pagar alguma das suas faturas da Ordem. Passei a ver tudo com outros olhos: o amarelo da Ordem é mais bonito! Os bancários que atendem na Ordem são mais confiáveis! (sobretudo por conta dessas fofocas que falam sobre juros) Não ter bombons no bolso evitará que eu consuma produtos ilícitos e que induzem ao comportamento desmedido (é só perguntarem para a estrelinha de um dos post’s abaixo se ela ainda sabe como refletir a luz do sol e se ela sabe diferenciar os movimentos de translação e de rotação). Enfim, foi melhor para a minha salvação.

Pelo menos evita eu ser assaltado... Até porque estou completamente liso!


Alberto Júnior

"Louvado seja nosso Senhor Capitalismo!"














7 comentários:

Luca disse...

kakakaka

Qd eu abri o blog e vi esse texto longuissimo, deu preguiça de lê-lo, mas já q vc falou da Ordem, da qual tb participo, o li...asashaushas

Só não gostei mais, pq constatei q ficaremos sem grana para a sexta-feira! Droga, Alberto. Hunf

Qt a estrelinha...realmente. Ela não saca mais nada de rotação, translação e tudo mais. Ontem mesmo ela insinuou não saber q a lua verticalizava de acordo com o passar do dia!!
huhuhu

Pare de fazer propaganda do seu blog aqui. Hunf!

Anônimo disse...

genteim, eu faço comunicaç~~ao e não astronomia


por favor...

Estrelinha

Marcelo Gavini, não-pensante e insistente disse...

Por essas e outras que um dia arranco toda a minha grana do banco, faço um compartimento secreto debaixo do meu colchão e por lá permanecerá por toda a vida.

No meu bom inglês, "Ái Rríli Rrêite Bénquis"!

Anônimo disse...

Já dei o 1º passo: cancelei minha conta!

Lady Sith disse...

Hahahahaha. Ficou sensacional. Morri de rir. Também tenho fé na Ordem, irmão. :D

Anônimo disse...

o próximo passo é recorrer para a outra Ordem... a Ordem dos injustiçados autoconfiantes em seus direitos no PROCON.
vou tentar...

Anônimo disse...

alberto, essa criatividade vai longe. pra tu ver!! querem tanto que fiquemos descreditados que inventaram até o bilhete eletrônico pra engrossar nossa lista de coisas para as quais não temos dinheiro pra pôr crédito... heuhuehueh

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