domingo, 16 de setembro de 2007

Os caminhos depois do porco

Outro dia, ela me pegou desprentensiosamente e me usou até satisfazer a sua fadiga. Já terminado o meu uso, ela me jogou no chão, como se eu fosse um imprestável. Meio sucateado pela desconsideração daquela a quem servi, fui socorrido por um outro desconhecido. Ele vestia roupas surradas e não tinha a pose severa e hipocritamente imposta pela primeira. Suas mãos estavam sujas, o seu rosto escurecido pela falta de proteção do sol, que àquela hora inclinava seus raios horizontalmente contra. Ele me levou em seu veículo usual de trabalho, puxado por um animal cansado e maltratado pela sede. O fim do percurso foi a sua casa, um barracão velho, bastante simples, porém mantinha uma organização peculiar. Parecia refletir uma espécie de alteridade daquele homem.

Assim que entrei na sua humilde morada, me deparei com outros iguais a mim e fiquei esperançoso por um futuro diferente daquele que pensei ter, assim que me vi escorraçado por aquela mulher. Ainda lembro dos meus primeiros pensamentos: “Fui tão generoso, tão servil. O que fiz a ela para que me tratasse com tanto desprezo? O que acontecerá comigo, a partir de agora? Ficarei aqui, jogado, sujo, machucado até que eu morra de vez?” Pensamentos confusos vieram a mim, nenhum deles conseguia ter nexo a uma resposta comum ou, ainda, à expectativa de salvação e transformação.

Mas esse senhor, também necessitado de conforto e de ajuda, encontrou em mim a satisfação da sua necessidade. E fiquei feliz em novamente poder servir a alguém, assim como ele prometera que fosse acontecer por toda a minha vida. É. Eu tinha uma missão e não poderia me negar a cumpri-la. E, então, ele me levou junto com os demais a outro lugar. Um lugar nada parecido com a casa dele, ainda assim, não tive medo. Percebi que ali existiam outros que foram como eu e conseguiram ter suas vidas transformadas. O senhor foi embora, sem olhar para trás e eu confiei que, no dia seguinte, ele fosse encontrar outros para salvar.

Deram-me banho, me trataram, passei por alguns processos de reabilitação e fiquei novamente com um aspecto bom. Se aquele senhor me visse de novo não acharia que eu fosse um daqueles que ele tinha socorrido outro dia – ou tivesse essa certeza sim – nem a mulher pensaria que eu fosse o mesmo que ela tinha ignorado. Saí desse último lugar para uma vida nova, percorri diversos lugares até chegar novamente às mãos de outra pessoa que me abandonou num córrego.

Por que as pessoas fazem isso comigo, hein? Sinto-me inútil quando desprezado nos lugares mais impróprios, mas a minha vida só serve para elas, contudo, elas não me dão valor...

Quem sou eu? Será mesmo que, para você, isso interessa? Ou será você mais um idiota que, ao topar comigo, vai me jogar no chão? Então, acho que sei quem você é: um porco!
Luana Diniz
nem todo lixo é lixo

7 comentários:

Anônimo disse...

Realmente teu destino de porquinha é buscar a salvação se casando com o lixeiro. Quanta responsabilidade social! Que tal partires para outro tema de monografia na área do jornalismo ambiental?
gostei do texto, ó!

Caio Andrade disse...

Muito criativo o texto. =)

Anônimo disse...

quando eu ia chorar, descobri que era só mais um copo.

Porco

Luca disse...

Ô, porconilton, lamento a decepção q sinto em não ter feito o senhor chorar de vez.
haushausha
O texto não foi criativo. Pensem sob o aspecto do pensamento do copo. É o pensamento de um copo, que eu vi sendo jogado pela janela de um ônibus por uma mulher. Pow! Ela tinha uma bolsa, será q ela não poderia esperar só mais um pouquinho até chegar ao ponto de descida para se livrar do copo?
Aff...
Não, Albert. Não estou afim de fazer monografia em responsabilidade ambiental. Só para a minha mono ficar na hemeroteca? Vou fazer sobre qqr coisa irrelevante para a sociedade, como, por exemplo, a tua biografia.

;-)

Nana disse...

Po, eu tava toda triste achando q era um cachorrinho :(

Anônimo disse...

Já pensou em transformar esse texto em um curta?

Luca disse...

hehehehehe

Elca, isso seria um trabalho para os super-poderosos amigos de Rádio e TV. =D
Mas a idéia não é ruim, não, viu?!?

=****

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