quinta-feira, 12 de julho de 2007

Um furacão...


Livros de uma futura biblioteca, folhas, roupas jogadas na cama e no chão, CDs fora de suas capas e espalhados pela mesa, sandálias e chinelos olhando para os pares distantes, bijouterias enrendadas umas nas outras, ar esfriado pelo ventilador, um mural laranja com registros de momentos aparentemente felizes na parede de cor verde (tom claro, claro), adesivos grudados por toda a porta, gritos e risos de crianças vindos da rua, lá fora o restante da casa, o restante do mundo lá fora...


Quem vê ou imagina esse cenário, pensa consigo mesmo: "Nossa! Passou um furacão por aí?" A resposta vai ser afirmativa: "Sim, sim. O furacão foi uma menina com os olhos enebriados pela coragem, mas com o coração rasgado pelo medo." O furacão que sempre passa por este quarto (sim, já deu de perceber que é um quarto, né?!) passa feito um furacão. Não vive lá, mas mora lá. Os sonhos são secretamente amaciados pelo travesseiro, único cúmplice que recolhe todas as mágoas, as alegrias e os pensamentos sem repugná-los.


O furacão adora mudar e, na maioria das vezes, olha para trás e fica satisfeito com os es-tragos que traz consigo na lembrança remota. E os estragos também são deliciados com um sopro leve de vitória. No entanto, nada arranca do seu seio o medo de tentar novos es-tragos, que podem se tonar estragos. Certamente, porque é natural do furacão ter estragos como rastros. Ou talvez, porque ele não seja tão ciente da sua capacidade de fazer es-tragos.

Enquanto ele divaga sobre a existência da sua capacidade, as coisas vão acontecendo e o empurrando para os desafios, mesmo que ele não aprove todas as mudanças. É como se o mundo dissesse a ele que não importa o medo que ele tenha dentro de si, importa sim ele arriscar e tentar rastros menos impetuosos e mais solidificados. E nesse vão muito estreito entre o divagar e o arriscar, em que reside o medo, não cabe a parada, mas o sinal de avance, arrisque, es-trague ou estrague, mas faça.

(...)

O quarto vai sendo abandonado pelo furacão, para ser ocupado não se sabe por quem. Quem sabe alguém que seja também um furacão ou um vento breve. O furacão, então, parte, muda e transforma. Invade outros terrenos, outras vidas, outros mundos e se refaz furacão sempre...com es-tragos e estragos...


Luana Diniz
mudanças pra quem te quer, mudanças

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