sábado, 26 de maio de 2007

Princípio musico-moral X Massa

“Tu gostas desse tipo de música?” “Você lê esse tipo de livro?” “Você assiste a programas como esses?” “Dança comigo? Não, eu ainda tenho princípios!” “Eu não vou virar puto e ir para esse lugar, para queimar a minha imagem”.

Essas são frases típicas de pessoas que defendem com vigor seus estilos, gostos e preferências “artísticas”. Nas rodas de conversas sempre surgem tais dilemas, onde uns saem tão sacrificados quantos os outros, quando os estilos, gostos e preferências são divergentes. Imaginem só uma mesa, em que uma pessoa curte ‘Música Popular Brasileira’, outra curte Rock, outra curte Forró e Pagode e uma quarta que ainda está em processo de influência musical e tem seus gostos sempre repensados ou sempre disputados! Agora, imaginem que tais pessoas são amigas, companheiras de grandes aventuras e que, ao partilharem de um mesmo ambiente musical, os atritos permanecem até o álcool não ter possuídos suas mentes!

Certamente, você pode imaginar que as críticas sejam as mais variadas, que as retorções de boca, as viradas de olho também sejam executadas com bastante esnobismo e você não estará errado. Até porque qualquer ambiente social é caracterizado pelas divergências em diferentes níveis.

O cara que gosta de Forró e Pagode pode muito bem entrar em atrito conceitual com aquele que gosta de ‘Música Popular Brasileira’, porque desde que o termo popular entrou em questão, as músicas preferenciadas pela MASSA, obviamente, são consideradas POPULARES em detrimento às músicas eruditas ou arcaicas ou, ainda, mumificadas por uma elite intelectual e retrógrada em voga adepta de movimentos musicais revolucionários que vieram instaurando novos tipos de arte musical a cada época. Em outras palavras, apenas o que é considerado antigo possui uma áurea esteticamente (e estaticamente) bela e o que foi criado ou REinventado recentemente é lixo, nada descartável.

Mas o que é o belo? O que é a arte? O que é música boa ou música ruim? Eita discussão sempre boa de ser aferida, afinal, nunca se chega a uma conclusão, já que as correntes partidárias, claramente, vão defender suas posições, cujas mudanças não são comandas pelo aceitar e nem são realizadas pelo orgulho diáfano dos conceitos já impreg(n)ados pelas Instituições maiores.

Não podemos esquecer também do exemplo das pessoas que gostam de Rock e daquelas que ainda não têm um gosto musical definido, respectivamente, já que ambas também sofrem uma discriminação prévia, uma vez que a primeira defende, na maioria das vezes, um produto que geograficamente não é da sua cultura e a segunda tenta filtrar aquilo que melhor lhe apraz, mesmo que acabe se tornando uma disputa as influências pelas quais ela pode passar. Cada um dos tipos citados acima tem história-empírica em suas influências, daí elas terem uma resistência acerca de outros produtos musicais, embora a última ainda não tenha algo tão solidificado (quanto parece).

De qualquer forma, todos os conceitos, as referências e as apreciações musicais foram SACRALIZADAS por Instituições, em sua maioria midiáticas, assim, como em outros espaços artísticos, a modelo da literatura, da pintura e etc. Por exemplo, por que eu leio Gabriel García Márquez, escritor colombiano, e não leio Nauro Machado, poeta maranhense? Terá sido porque os estilos (narrativo e líricical definido, respectivamente, jo) são diferentes? Por que alguns ouvem Chico Buarque e não ouvem Silvano Sales – tese semelhante foi defendida por um estudante, na semana passada em um dos Centros da UFMA – se ambos falam do amor e da dor de amar?

Na mesa, em que os quatro tipos de pessoas desmantelam suas cabeças por divergências culturais, devidamente curtidas e obcecadamente defendidas, num ambiente de Massa, vivenciado por pessoas da elite intelectual, a resistência à cultura de Massa é quebrada por um grande vilão: o ÁLCOOL.

Onde fica o princípio artístico-moral, nesse momento? O álcool contagia e faz manifestar, primeiro, no bater das mãos nas pernas a quebra de tais princípios. Quando se convida para uma dança, os pés e a mente, ainda, não contaminados resistem (tem gente me olhando)...Uns curtem o reggae! “Pô! Bob Marley tá entrando...” Mas quem foi esse tal de Bob mesmo? Ah, o ‘poeta’ do reggae! Mas quem foi mesmo que disse que ele foi grande? Uhm... Sim, e o Sacode, Sacode? Não é grande? Não? Ah, já sei! Por que nenhuma Academia, nenhum movimento artístico-revolucionário-musical, nenhum renomado músico, nenhum Grammy o premiou com a áurea artística, não é? Então, por que será que, ao beber vodka descontroladamente, não se sabe mais diferenciar a tão afamada ‘Música Popular Brasileira’ e nem mesmo quem um dia foi Elis Regina? Uhm... a questão é deveras problemática!

Finalmente, confessemos que nossos gostos são padronizados por um querer ser aceito diante de um grupo (gueto) específico e não porque, simplesmente, eu tenho base, mais que empírica, para considerar que um é melhor que o outro, afinal de contas, você aí que está lendo tal corpúsculo sabe conceituar o que é feio, o que é o belo, o que é ARTE, enfim? É, então, podes se considerar alguém acima de qualquer outro e receitar o que deve ser ouvido e/ou curtido, ok?!

Não estou defendendo nenhum partido político-musical neste textículo, só estou refletindo, como algumas coisas, pessoas, ambientes, momentos e Instituições podem (re)definir preferências.

P.S.: Por que será que estou lendo Saramago, logo depois que o escritor ganhou o Prêmio Nobel de Literatura deste ano? Ê, pow! Qual é?!? Eu me defendo! Eu não sou advinha enem sabia que o cara iria ganhar tal prêmio quando o solicitei como presente de aniversário e já venho há tempos dizendo que quero conhecê-lo! Contudo, por que eu não pedi um autor maranhense para conhecer, já que, realmente, desconheço a literatura local? Tá bom, tá bom! Confesso! Simplesmente, as Instituições pelas quais eu passei me exigiram até hoje que eu lesse apenas um autor maranhense, mas sempre me exigiram ter conhecimento literário de vários ‘grandes’ escritores nacionais e internacionais. Viu como funcionar a dinâmica? Comecei a ter certeza que Matrix é real...ops! Que a realidade é uma Matrix! Ela existe!!!






Luana Diniz






"A vida esguicha como uma fonte para aqueles que perfuram a rocha da inércia." [Alexis Carrel]

5 comentários:

Anônimo disse...

bom, é sempre legal ter um blog. agora, as fontes de vocês desfavorecem o tamanho dos textos. o leitor tem que ter persistência. quanto ao texto... realmente esta é uma discussão difícil. eu considero um tanto platoniano quanto a estética, apesar de ter estudado bastante. tratar de gosto volta-se a interpretação do sujeito e tals, da própria pessoa. qualificar isso é algo mais complicado. a estética, atualmente, apresenta classes: classifica e não qualifica.
mas no fim, o que vale é o respeito. e para os que não aceitam esse critério, basta levantar-se da mesa, pagar a conta e ir procurar alguma coisa útil para fazer.

Anônimo disse...

Alberto Júnior responde...

Luana Diniz! Vivemos numa sociedade plural e multicultural, na qual as manifestações artístico-cultural se apresentam em grande variedade.
A classificação de tais manifestações, principalmente as musicais, sõa necessárias para poder melhro definí-las, assim como tudo na vida.
O fato d'eu não gostar de brega ou não querer dançar um pagodão, não quer dizer que eu não menospreze quem goste ou quem "consuma" tal tipo de música. O problema é quando as pessoas acham que vocÊ TEM que se levantar da sua cadeira, remexer seus quadris, botar o dedinho na boca só porque todos ali estão dançando tal tipo de música.
Que eu saiba, o Bambu Bar não é nenhuma casa de culto, não é nenhuma instituição cultural. É sim um espaço aberto de lazer e entretenimento. O fato d'eu não querer me manifestar e ainda fazer careta não quer dizer que ofensa a quem estiver dançando no local.
É apenas questão de gosto, como você frisou bem!!
Eu posso até já ter gostado de muita coisa que hoje eu tenho repulsa! eu sei que meu passado me condena...
Agora sua atitude de querer a todo custo embriagar seus amigos apar vê-los dançarem na boquinha da garrafa é uma atitude de extrema persuasão e coerção. É ir contra a idéia democrática da liberdade de escolha.
Da próxima vez, vou levar meu cd de Björk e exigir q todos se levantam e dancem ao som totalmente psicodélico da artista!
enfim...
aguarde o texto da porquinha!

Luca disse...

Gente, será que sempre vou ter que TRADUZIR meus próprios textos? Sendo assim, acho melhor recomeçar meu curso de Jornalismo, pois não estou sendo bem compreendida!

A situação, no espaço Bambu Bar, só foi colocada para embasar a problemática do vilão álcool. Pois, ao beber, venhamos e convenhamos, esquecemos todos os gostos apreendidos pelas Instituições!

Em outras palavras, não é à toa, que de vez em quando, em uma dessas bebedeiras da vida, vejo pessoas esquecerem RHCP e descerem até o chão no funk; esquecerem Elis e rebolarem a la axé... Por isso que sou fã de Pedrin, que admite sorrateiramente, que os ambientes ou as ocasiões determinam o que deve ser ouvido ou não! Ao contrário de certas pessoas, Pedrin se esbalda no tecno-brega, sem dó nem piedade, ou medo de ser escrachado por outras pessoas que o conhecem como bom entendedor da 'Música Popular Brasileira'.

Mas gosto é gosto, não podemos negar. Cú é cú, também não podemos negar e ÁLCOOL é arcú...NÃO PODEMOS NEGAR!!!


beijoooooooooooooosssss na boca fedida de caxaça de cada um de vcs!!!!

Anônimo disse...

Luana, confesso que esta dúvida já me invadiu várias vezes em minha não tão breve vida acadêmica.
Mas algumas situações me levaram a refletir que certos discursos são apenas discursos cheios do mais profundo vazio.
Lembro que via algum companheiros que ainda sóbrios diziam não suportar Forró, brega e ritmos similares, quando tinha acesso a alguns cálices do líquido etílico precioso venerado nas festas da Academia, cantavam com todas as letras, de cor, as músicas que antes tinham aversão.

Quem quiser conferir é só fazer uma breve visita a uma das muitas calouradas que abrigam os muros da Universidade.

Emerson Marinho

P.S>: Só recomendo que aos iniciantes tomarem cuidado para não encherem a cara e fazerem parte desta triste estatística.

Luca disse...

Pow! Até que, enfim, alguém compreendeu meu propósito, minha reflexão!!

Sabe o que é isso? É um processo de osmose! A pessoa vive no ambiente, quase diariamente, ouve as músicas repetidas vezes, como se não tivesse outro lugar para frequentar. Aí desaprende o que as benditas Instituições lhes pro(im)puseram.

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