terça-feira, 15 de maio de 2007

"Nem tudo que reluz é ouro, nem tudo que balança cai"


O título do atual post é o refrão de uma das ladainhas cantadas em coro, nas rodas de capoeira. A apreendi recentemente, em uma das rodas que acontecem lá no Tombo da Ladeira - Mestre Gavião, às sextas-feiras. É um refrão sutil, simples e de fácil absorção, principalmente, quando não só se canta, mas também quando se reflete como a arte popular é um espelho da realidade de qualquer indivíduo.

Não estou aqui para teorizar ou para filosofar sobre a arte popular, até porque ninguém consegue chegar a um consenso do que realmente seja o popular. Vim mesmo retratar nestas linhas sem vida a minha última experiência na arte angolana, cheia de ginga, de magia, de malemolência, de malandragem, de graça, malícia, seriedade, HUMOR...

A Capoeira de Angola entrou em minha vida há exatamente dois meses e dois dias, no entanto, confesso que meu interesse por ela já vem de bons tempos, mas a busca de conhecimento e a dedicação a ela veio sendo adiada em função de outros interesses, de alguns contratempos e, porque não dizer, de comodismo!

Os treinos são puxados para quem está há anos sem praticar atividades físicas, mas a ansiedade por vivenciar o jogo me dominou por completo, escanteando os maus físicos ainda persistentes após os treinos. Mas, ah, que ansiedade boa é essa de experimentar essa arte/luta bonita!!! Uma arte/luta nascida da ânsia de liberdade do escravo e que se expandiu com a trajetória da população negra na história do Brasil, fundindo uma veia filosófica, cheia de fundamentos entre seus praticantes.

Segundo o Mestre Pastinha, um dos senhores da difusão da Capoeira Angolana, para ser capoeirista, não bastam apenas os treinos, mas a experiência da roda é indispensável. Frustrada em saber de tal concepção e também ansiosa em pôr em prática os golpes ensinados pelos professores, resolvi que me daria essa oportunidade de entrar na roda e fazer jus ao ensinamento deixado pelo Mestre Pastinha.

E não é que aconteceu mesmo? Entrei na roda!!! Toda empolgada, primeiro lutei com um dos capoeiristas mais experientes do Projeto de Extensão, no qual treinamos. Sem modéstias, acredito que fui bem sim, de primeira. Deixei as ladainhas, ao fundo, comandarem meu corpo, fazendo fruir a ludicidade inerente ao processo artístico da luta.

Depois disso, mais duas lutas foram realizadas, mas a que eu queria que acontecesse mesmo deveria ser travada entre mim e Polyana: uma que sabe merda nenhuma X a que não sabe nada! No fim das contas, a puxei para a roda e, caso acontecesse a recusa, esta seria considerada uma ofensa. Atrevidas, desengonçadas, mas corajosas, o desafio aconteceu. E não é que meu "sonho de consumo" (confesso: lunaticidade total) virou pesadelo?!? Começamos até legalzinho, afinal de contas, pow, nós sabemos gingar (rs), mas nos dominamos pela empolgação e esquecemos 'mandamentos' essenciais na hora da roda: olhar um no olho do outro e defender o rosto! O que aconteceu? Bem, bem...só olhando para a marca deixada pela pezada de Polyana abaixo do meu olho esquerdo. Meus óculos pararam longe. A troglodita pediu mil perdões, ficou toda preocupada, mas, ENFIM, percebi que, realmente, "nem tudo que reluz é ouro, nem tudo que balança cai". Uma garota, que se dizia AMIGA, esmagou seu próprio chuchuzinho!!!!!! Aff!!!

Recuperada de tal agressão, divido aqui uma experiência emocionante vivida com entusiasmo e, mais do que nunca, vigor!

Claro que perdoei a minha "AMIGA", né?!? Faz parte do jogo, afinal, quem não sabe lutar é sempre apanhado desprevenido (M.P).

E aqui vai uma ladainha, que exprime divinamente meu atual momento, o qual, tenho certeza, perdurará por longo tempo:


Olhe eu amo a capoeira
Olhe eu amo de Paixão
Através da capoeira
Digo sim e digo não
Digo não a hipocrisia
Digo não a arrogância
Não também pra opressão
Digo sim pra humildade
Digo sim pra amizade
Pra coisas de coração
Capoeira em minha vida
Me mudou a direção
Hoje eu estou aqui
Amanhã posso estar não
Mas aonde quer que eu vá
Carrego no coração
O toque do berimbau
O toque do agogô
O sonzinho do reco-reco
Do atabaque e do pandeiro
Mesmo sem ter paradeiro
Capoeira largo não
Minha mãe me disse sim
O meu pai me disse não
Esta arte fez de mim
Uma pessoa livre enfim
Capoeira é infinita
Não tem coisa mais bonita
É ginga que vai e vem
Capoeira é meu nome
Capoeira está no sangue
Capoeira é estar bem
Camaradinho

[Linda]


Luana Diniz

2 comentários:

Polyana Amorim disse...

eita, que a menina é dramática, sô!

amiga, td pelo aprendizado!

uhuuuu

gostei da msk, achou em q site??


Poly (iê, camará!)

Luca disse...

Dramática nada! Vc não percebeu meu poder de retratar experiências? Simplesmente, fiz um elo entre a minha experiência frustrante com o refrão de uma ladainha!
Just!
Ah, depois eu te passo o endereço em que encontrei as ladainhas. São mto lindas mesmo!

Luana Diniz

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