domingo, 28 de outubro de 2007

lendo a FELIS...


"Os livros têm os mesmos inimigos que o homem: o fogo, a umidade, os bichos, o tempo; e o seu próprio conteúdo." [Paul Valéry]

O escritor francês esqueceu de explicitar o próprio homem como inimigo de sua maior criação tecnológica. Se os bichos corroem os livros, destratando suas formas, já destratadas por seus conteúdos, o homem destrata seu uso retransformando seus conteúdos em puramente inválidos e descartáveis.

A imaginação humana resguarda nas estantes os espelhos, as luzes e os lucros de cada tempo. Para alguns, o livro serve de mau conselheiro para o homem, esfregando a íntima mediocridade do escritor e do seu leitor; para outros, o livro é uma conversação com os célebres nomes de gerações passadas. Nestes dois epigramas, há saliências elitistas. Não da elite burguesa pigarreada por militantes socialistas. Mas duma elite intelectualizada que também não deixa de ser aburguesada. Elas inspiram uma guerra unilateral sobre o mundo da leitura.

Essa inspiração está infiltrada em várias políticas públicas. Para ser mais clara e objetiva, cito a feira do livro, que foi encerrada ontem, em São Luís, e deixou muitas pessoas inFELISes. A FEIRA gerou sentimentos controvérsios e surpreendentes. De repente, toda a população de São Luís pareceu estar na mesma praça. E para quê? Para comprar livros! O turista que visse tal fenômeno diria: esta é uma cidade de leitores. Mas os que tivessem bastante atenção teriam duas concepções: primeiro, FEIRA foi apenas um nome popularesco; segundo, como as pessoas são levadas por um sentimento de consumismo (a la Alberto). Cada concepção adianta várias outras. Os livros não estavam caros, só estavam no preço normal de livraria e editora, ou seja, nada acessível/coerente para uma FEIRA. As pessoas estavam se sentindo num grande evento e, embora não fossem leitoras assíduas, apenas se sentiriam com o dever cumprido de ir à feira se saíssem de lá com as sacolinhas das livrarias.

Eu não sei qual foi o corpo pedagógico que participou da realização do evento, mas se não houve, a organização está de parabéns. E se houve...ai, ai, ai! (Glup). O incentivo à leitura não é feito por meio da aglomeração de stands vendendo livros a preço de bananais. O incentivo se dá, exatamente, por meio da conscientização da população da importância da leitura. Haveria bons meios de acontecer essa conscientização. A doação de livros é uma excelente alternativa, porque, além de gerar um sentimento de co-participação, ainda beneficia aqueles que não têm grana para adquiri-los.

A FELIS (1ª Feira de livros de São Luís) merece ovações e vaias. E, embora ela seja só mais um produto da guerra citada acima, eu fico com as ovações. Afinal de contas, a FEIRA fez toda a cidade ir à uma mesma praça prestigiar um velho que, certamente metade, nunca leu, nem ouviu falar, mas já assistiu sem saber. O Ariano Suassuna é um velho engraçado, autor de obras consideradas importantes para a literatura brasileira, por tratar do 'humanismo sertanejo', mas que quiabos é 'humanismo sertanejo' para aquele povo todo que só soube rir da dicotomia mentirosos e doidos e não teve grana para comprar A Pedra do Reino (escrito em 1970 e adaptado em minissérie de três capítulos pela Rede Globo, no mês de junho deste ano), que estava custando mais de 60 pilas? Hunf

Amanhã é o dia nacional do livro. Até lá, as pessoas já esqueceram que passaram uma semana visitando stands, possuídas pelo consumismo, sem compreender que "um livro deve ser o machado que quebra o mar gelado em nós" [Franz Kafka].



Luana Diniz
ain...bolso vazio, estante vazia

2 comentários:

Anônimo disse...

"Nestes dois epigramas, há saliências elitistas..."
ôooo, burguesa elitista e saliente, parabéns pelo texto.
Tava lendo aqui e pensando porque que tu ainda não mandou nenhum dos teus textos como comentário para um jornal impresso, que é o que falta pra ti como experiência profissional e acadêmica.

Mas, vamos à algumas réplicas e tréplicas...

Quando eu disse que a maioria estava lá por conta do comportamento que tanto estudamos na Comunicação como um movimento de massa, eu não estava condenando a ida de todas as pessoas. Não quero também ser tão egoísta ao ponto de ir para uma feira e ter um lugar reservado só para mim, com o privilégio de ouvir um pouco das conversas de Ariano Suassuna sem a companhia de uma bem humorada senhora que ria até da falta de dentes na boca do mesmo Ariano (podia ser Pisciano, né...) em si maior: ri - ri - ri - ri - ri...

Em relação ao corpo pedagógico , também não sei te responder com nomes, mas que ele existiu isso sim! a própria SEMED estava representada lá. E se refletiu na programação como um todo que não foi só a venda de livros.

A idéia principal da Feira é o fomento à leitura e acredito qeu funcionou muito bem em torno da programação infantil. Público este que melhor representa a idéia de estímulo à leitura.

Crianças de diversas escolas públicas (sobretudo!) estavam lá entrando em contato com Monteiro Lobato, Guimarães Rosa, Cora Coralina, etc e tal por meio de atividades lúdicas e com muita sedução.

Adolescentes em fase de tensão prá-vestibular puderam participar de palestras sobre temas recorrentes ao referido processo seletivo e tirar muitas dúvidas.

Graduandos em Letras, História, Artes, Comunicação, etc e tal tiveram um leque de opções de debate com temas variados. o problema é que não estiveram lá pra conferir.

Enfim, o evento aconteceu. A oportunidade de conferir palestras com temas interessantes e o encontro com escritores foi promovida e estimulada. Mas o que faltou? a pré-disposição do público e o compromisso de querer partilhar destas experiências.

A FELIS foi um sucesso mesmo vendendo livros à preço de mercado e com editoras que encontramos nas esquinas do Centro. Porém, a compra de livros é apenas 10% do que podemos considerar como acesso à leitura.

Pow! vamos valorizar o trabalho dos nossos companheiros bibliotecários! Vamos à biblioteca!

Há tantas outras formas de ter acesso ao livro que não seja pela compra dele.

Não achas?!

Luca disse...

Éguas!!
P q tu não postou logo, hein, Alberto?
hauhaushasu

Tá, tudo bem. Fui injusta, pq embora tenha falado q a FELIS merecesse ovações, eu não enumerei as ovações, preferindo falar o pq das vaias. Na verdade, desde o primeiro dia em q eu visitei a feira, eu considerei magníficas as oficinas direcionadas às crianças, afinal, é um público mais q potencial. E os livros de literatura infanto-juvenil eram os baratos, apesar de ser o preço normal de mercado.

Enfim, refaço o término do texto aqui:

A FELIS vai crescer, os pontos negativos reconsiderados e se Deus quiser, a população ludovicense vai ser, de fato, FELIz...

Literatura, pra quem te quer, literatura!!

hehehhe

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