sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Os filhos da puta do cinema brasileiro

Pensando em pintar os inúmeros palavrões do cinema brasileiro numa tela, imaginei como essa tela ficaria clichê e deturpadora. Para a maioria dos que dizem não gostar do cinema produzido por e para brasileiros, o exaustivo uso de palavrões nos nossos filmes torna os textos fracos, despindo-os de arte.

Eu, particularmente, costumo ir ao cinema assistir a um filme brasileiro por apreciar o talento e o empenho que vem nascendo a cada produção nacional e não primeira, pura e simplesmente, para curtir um filme de arte, como algumas pessoas, geralmente, rotulam os franceses, indianos, espanhóis e os preferem aos nossos. Mas o que define um filme de arte? A nacionalidade? Esse assunto também já é bastante abusado em algumas rodas, mas o abuso perdura como sacralização da nossa identidade. Mas, peraí! Faz parte da identidade brasileira porra, caralho, filho da puta?

Nesta semana, fui ao Box assistir ao filme O Dono do Mar. Confesso que meu objetivo era de ir ao cinema, independentemente do filme que iria assistir, mas a minha companhia queria assistir a aquele e eu nem sim, nem não pelo filme, mas pela sessão. Ainda encontramos alguns amigos na praça de alimentação que nos convenceram a trocar os bilhetes para assistir a outro: Primo Basílio – também brasileiro; no entanto, acabamos assistindo ao primeiro mesmo, já que eu tinha, em duas horas, que assistir a outro filme brasileiro com outra companhia e, no caso deste, eu ia porque eu queria assistir a ele (só tinha ele mesmo...kkkk).

O Dono do Mar é um filme com uma proposta diferente e surpreendente. A gente gosta dele porque nos dá vontade de ler o livro, no qual foi inspirado, e parece que essa é a sua proposta. Não pense porque ele seja tão magnificamente bom, mas sim porque a produção dele poderia ser mil vezes melhor e os buracos que ele tem não enfraquecem o enredo. Um amigo perguntou: “Como vocês conseguiram perceber que o enredo é bom, se o filme é estranho desse jeito.” E eu respondi: “OUras. Assista-o, que você vai se inquietar com a trilha sonora repeti-ti-ti-tiva e nauseante, além de efeitos interessantes que não combinam com os diálogos maravilhosamente mal-adaptados.” Eu não estou sendo sarcástica, mas, como disse a minha companhia, “dá de se perceber que esse filme foi feito para ganhar dinheiro apenas”. Pois sim, pelo menos saí de lá achando que Sarney é um bom escritor e o meu amigo acrescentou que ele era um tremendo safado, pela quantidade de cenas de sexo, que venhamos e convenhamos, ajudaram a salvar o filme também. Isto é, se ele pode ser salvo.

Já o filme assistido logo depois foi Batismo de Sangue, no Odylo. Cheguei vinte minutos atrasada para assisti-lo, assim como no primeiro (hehehe), mas peguei cenas sensacionais. Não, não estou me referindo só ao filme, mas ao público que compunha a sala. Curiosamente, a sala tinha uma ocupação merecida de mostras e outros eventos realizados pela casa. Mas não estava acontecendo qualquer evento especial, a não ser a comum exibição de filme , o que eu disse no início deste parágrafo, que é estrelado por Caio Blat e outros atores da grôbu. Quando eu saí da segunda sessão do dia, vi no saguão uma quantidade superior de pessoas à espera da terceira e última sessão. Fiquei pasma. Quando eu contei para o mesmo amigo que se referiu às cifras e ganhos da primeira produção, ele disse: “Só por causa do Caio Blat. Se eu quiser assistir novela, eu fico em casa.” Mas é claro que não foi por isso, afinal, quantos filmes são exibidos no Cine Praia Grande, com atores globais, ainda assim, não têm uma platéia consideravelmente numerosa?

Pois bem! Esse filme, diferentemente do anterior, não ficou a desejar pela trilha sonora, ou pela péssima adaptação. Na verdade, o que estava me deixando inquieta na cadeira também não foram as cenas de tortura – às vezes, eu adoro dar escândalos por algumas cenas – e sim pelas falas. Puta merda! Quanta porra, filho da puta... Nossa! Quão inteligentes são essas falas.

Enfim, eu tava lendo algumas coisinhas pela net e li um texto que reclamava ironicamente da falta de mães para produzir filmes no mundo, pois os filhos, certamente, as deixavam envergonhadas pelo palavreado incoerente a um ensinamento materno: “Papai do céu não gosta de crianças que falam essas coisas.” É. Agora, imagine a quantidade delas que sofrem infarto, quando chamadas de putas? Ah, não me venha dizer que isso é comum entre nós no cotidiano, que isso é exagero. Há xingamentos muito mais interessantes a serem proferidos a esses que enfadam e, realmente, empobrecem o texto e, ainda por cima, não são ditos da maneira como seriam ditos na realidade, saindo caricaturais. Socorro.

Meu pau de óculos pra vocês, que produzem filmes cheio de poluição auditiva. Desse jeito, eu sou obrigada a dizer: My Oscar goes to Atrás da Porta, carái.

Luana Diniz
Essa porra do blogspot não me deixou postar nenhuma gravura

9 comentários:

Anônimo disse...

É incrível mesmo a enormidade de palavrões em filmes brasileiros. Os mais consagrados da contemporaneidade têm como ponto forte uma listagem imensa de depreciações expressivas encabeçadas por "porras" de toda sonoridade, tornando-se esse, talvez, o delineador que diferencia as nossas produções das espanholas, francesas, indianas...

"Cidade de Deus" ainda choca muita gente, mesmo sendo um dos filmes mais populares, pra não dizer dos mais popularescos. Mas pelo menos sua história e seu enredo sustentam a existência de tantos xingamentos.

Vou confessar q não sou crítico legítimo de produções brasileiras mais alternativas, como é o caso de Batismo de Sangue, mas o fato é q independentemente de ser uma produção do circuito comercial, porras, caralhos e afins são tão incisivos que às vezes ficamos na dúvida se há profissionais da equipe técnicas responsáveis exclusivamente para pesquisa de neologismos deturpadores.

Falando nisso, já descobriste o que é Platô, Lu? Provavelmente sejam profissionais especializados em tal, já que em Batismo de Sangue, por exemplo, havia muitos deles...

Luana! disse...

Não, Ri!
ahsuhsuh
Ainda não sei o que seja. Quem sabe nossos amigos universitários de rádio e tv não possam nos ajudar.
Vlw, hein?
Naum eh q tu comentou, sem ser tosco e ralado? Aff...Não tenha vergonha da essência que transpira de vc, porra, caralho, filho da puta.
Ui. Viu o que dá assistir a filmes desse cunho??
haushaus
Ê, pow! Tirando isso, o filme é porrada na veia. Foda!!!

;*****

Polyana Amorim disse...

por isso que eu só vejo os filmes do Didi e da Xuxa...não, da Xuxa, não...ela é pornô

=]

Unknown disse...

O emprego dos palavrões nos diálogos parece ser artificial e em Cidade de Deus não pareceu forçado porque mesmo que esse tipo de linguagem faça parte de qualquer contexto, ele autosuficiencia os grupos pobres. No restante dos filmes que esses núcleos podem ser subvertidos a linguagem poderia ser mais coerente. O cinema produzido aqui não é produzido só PARA nós, brasileiros. O conteúdo deles está ficando claramente mais próximo da análise artística, apriorizada pelos intelectuais. E o uso da linguagem deveria ser repensado por esses dois viés.

Luca disse...

Olá, Mário [^o)]! Serias o Elcabongue???
Aiiiinnnnnn...vcs me confundem, sabia??

Anônimo disse...

Particularmente, sou um admirador e usuário dos palavrões, desde, é claro, que sejam proferidos no momento e na entonação adequados.

Inexiste uma técnica, creio eu, mas quem não lançou um sonoro P#¨*!!! ao bater com o dedo mindinho do pé na famigerada quina da porta ou da parede??? Recitar um poema ou rezar o terço é que não dá!! A dor parece minimizada qd vc apela p tal artifício, pelo menos no meu caso sempre adianta. Me sinto tão aliviado!!!

E qd as FUL%&*!!!!!! atletas do vôleibol feminino do Brasil entregaram o jogo para as FUD$#%&*!!! cubanas no último PAN do Rio??? Só não chamei as meninas de bonitas, pq de resto é melhor nem comentar aqui.

Obs: deixem o Mário em paz e controlem essa curiosidade doentia.

Luca disse...

Ôxi! Parei contigo...

Anônimo disse...

Um dos motivos pelos quais minha mãe sempre fez cara de nojo quando eu chegava em casa com um filme brasileiro para assistir em família é esse: o uso de palavrões.
Sobretudo, depois de chegar em casa com "madame satã" para assistir num belo domingo de família reunida.
Depois da experiência de pausar o filme todinho porque Lázaro Ramos queria por que queria comer a bunda de outro ator e depois dançar feito louca num cabaré, parei!
Mas todas essas características em nossos filmes nacionais a mim não 'inflói' nem 'contribói'.
Acredito até que seja um acréscimo nas características do nosso cinema, assim como os franceses com seus diálogos sem muito humor, como os alemães, de humor inocente, etc e tal!
Pra mim, uma coisa que não pode faltar num filme é uma boa cena de sexo ou alguma cena dramática que valorize o olhar como expressão plena.
e quer saber vão para @#$@%#$¨¨$#¨&#%¨&@$%¨@$%¨@!

Marcelo Gavini, não-pensante e insistente disse...

Porra! Recentemente no meu blog fiz uma defesa franca e aberta ao direito genuíno de se falar palavrão, ainda que eu concorde - ainda mais por ser roteirista - que o excesso de palavrão e a falta de contexto com toda a certeza, com o perdão da palafra, 'fodem' a merda do filme.
Essa fama veio por causa daquelas cretinas pornochanchadas e até hoje, embora as produções sejam cada vez melhores, aquela imagem ainda subsiste.

Ademais, gostei disso aqui. Acabaram de ganhar mais um leitor assíduo.

ps: Aproveitando, fiquei bastante feliz com o seu(s) comentários no meu blog, já convidando pra ver a 2ª parte da história do Lamparina.

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