sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Da memória ao Reviver...


“Recordar é viver”, já diziam outrora. A memória funciona em nossas vidas como um arquivo em backup no qual você acessa a qualquer hora as lembranças de eventos ou de detalhes que ficam guardados por estarem ligados afetivamente a nós por vários motivos. E o melhor modo de acessar esses arquivos armazenados na pasta da nossa memória são os sentidos.
A visão, o olfato, o paladar, o tato e a audição são a porta de acesso para arquivos ocultos que até tínhamos esquecido no montante que existe guardado em nossa mente por conta dos novos arquivos que o dia a dia vai fazendo download.

Em alguma situação adversa, já nos utilizamos de um dos sentidos para ativar os arquivos de nossa memória. Há aqueles que têm uma memória visual e que tem facilidade em memorizar algo por meio de imagens. Há outros que pela audição identificam rapidamente uma informação sonora e todo seu conteúdo ou a situação a qual aquele som está relacionado. Tem aqueles que, sentindo o cheiro de algo, se projeta para o local da lembrança. Existem aqueles que pelo tato lembram de situações e outras que pelo sabor se reconhece em um fato do passado.

Durante a preparação para algum teste ou prova, como o vestibular, já nos percebemos utilizamos o recurso dos sentidos para nos ajudar a decorar alguma informação.
Bom, este post não se refere aos sentidos, mas sim, ao poder da memória. E sobre isso é que eu quero comentar de verdade por meio de duas situações.
Desde criança, sempre ouvi falar a respeito de uma tia materna que era exímia cantora. Sua voz, de tão nítida e expansiva chamava a atenção daqueles que a ouviam de longe. Essa tia morava no interior e viveu sua vida dentro de casa na companhia do rádio. Ela tinha uma enorme facilidade de aprender as músicas e de cantá-las. Em seu caderninho só para isso, ela ouvia num dia a música e a transcrevia numa velocidade invejável a tradutores e digitadores de hoje.

Ela teve hanseníase numa época que a doença ainda causava terrível discriminação. Então, ela passava o dia dentro de casa executando suas atividades domésticas e cantarolando sucessos de Dalva de Oliveira, Núbia Lafayette, Nora Nei, Ângela Maria e de outras cantoras da época. E sua voz realmente impressionava, segundo o relato de pessoas que a conheceram. Ao lado da casa onde ela morava funcionava um hotel e toda vez que começava a cantar pegava de surpresa os desprevenidos que achavam que um rádio estava ligado. Ela morreu sem o reconhecimento de seu talento e encolhida numa rede sufocada não apenas pela doença, mas também, pelo preconceito advindo da ignorância e desinformação de uma comunidade.
Talvez ela tenha sido uma influência indireta e hereditária em meu gosto pela música, ou não. Eu apenas queria que a tecnologia tivesse preservado por algum instante a sua voz e retirasse de mim a sensação de saudosismo por algo que não vivi, como se eu tivesse em mim um espírito de outro tempo. É assim que me sinto e é assim que gosto de coisas que não são do meu tempo.
Outro dia, fui ouvir coisas de Elis no radiouol e escolhi o último cd dela que foi remasterizado e relançado com gravações de algumas das músicas a capella e com outras somente no intrumental. Ao ouvir a música “Se eu quiser falar com Deus” somente a capella fiquei realmente impressionado!
Era como eu estivesse tendo uma aula de técnica vocal com a própria cantando bem ao meu lado. Os meus sentidos se desconfiguraram com algo que não fazia parte do repertório de minhas experiências. E não é a primeira vez que tenho estas experiências para além do passado, como rememorar o não-vivido. Já visualizei Clara Nunes rodopiar de vestido branco na minha frente ao ouvir coisas dela. Já me transportei para alguma casa de jazz estadunidense ouvindo Ella, Billie Holiday, Sarah Vaughan. Já vi Bethânia sorrir num show que nunca fui e já vi até a cara séria de Gonzaguinha ao cantar coisas. E ao ouvir Elis, quis também ouvir minha tia. E quis sentir sua presença. Eu a percebo como uma luz que me ilumina a cada situação de público, como se ela se projetasse em mim e revivesse seus sonhos não acontecidos.
A memória é algo que me encanta, bem como seus mecanismos de construção e de reconstrução, de significação e de RESSIGNIFICAÇÃO (adoro esta palavra!), de vivência e de REVIVER (só pra curtir mesmo...).
Eu sei, ainda estou frustrado por não ter feito meu projeto monográfico como eu queria relacionado a este tema. Então, desabafei.
Nunca esqueçam de mim, nem das minhas tosquices e raladices. A partir de agora, eu , por meio deste texto, já sou memória.



Alberto Júnior


eternizado

6 comentários:

Anônimo disse...

gente, até já me esqueci da última vez que postei... qd foi mesmo?

Luana! disse...

senhor ressignificação, vc naum fica na memória apenas por textos, aúdios, raladices, tosquices...mas por momentos q são inapagáveis.
acompanhei a tua angústia pelo tão desejado fruto de um TCC, te dei força (devolve os livros de Ferreira, ladrão!). mas tens q ter a consciência q ele só foi retardado tanto qt vc já o é. isso é pra tu aprender a dar mais valor à uema..viu? viu? tantas vezes eu te disse: alberto, comunicação, ufma...essas coisas ñ compensam...nosso futuro e reconhecimento está na estadual..então, vamos lá..estou te dando força novamente!!

p.s.: reviver ao contrário permanece reviver...toscos e ralados: CULTURA!

=***

Anônimo disse...

Já q o assunto gira em torno de lembranças, música e intérpretes femininas, sugiro a biografia "Clara Nunes: Guerreira da Utopia" do jornalista carioca Vagner Fernandes, a ser lançada em setembro pela Ediouro.

Para os desavisados, Clara foi a primeira cantora a vender mais de 100 cópias por um LP, quebrando o tabu de q mulher no Brasil não vendia discos. Boa leitura.

Anônimo disse...

Corrigindo: 100 mil cópias.

Luca disse...

eu conheço uma pessoa, em especial, que vai amar saber disso, elí!!
neh naum, milla??
ahuahsuas

=***

Polyana Amorim disse...

legal o texto A..a..adal...alva...alta...
como é mesmo o nome do cara que postou aqui?!

=]

te adoro, xeroso

lembrarei de ti for ever and ever and ever...pelos ensinamentos mpbísticos, pelas gargalhadas, pelos porres, pelas bagunças nos cinemas, pela parceria na radiun, pelas imbromations nos trabalhos feitos nas coxas, pelo carinho, pela amizade ímpar, pelo pêlo no saco escrotal(kauukakuauka), por admitir que Melamed é meu e por tudo q ainda viveremos tchugueda!

ah, e aproveitando o momento musical...genteim, ouçam Red Hot Chili Peppers, aproveitem enquanto os caras ainda tão na praça,fazendo a diferneça nesse mundin pop enlatado e repe-ti-ti-vo
=D
chili kisses!!!

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